Ministro da Educação: O ideal não seria um educador ocupar este cargo?



Enfrentamos em nosso país uma série crise institucional e política, evidenciada nos mais diversos aspectos sociais. O descaso com questões fundamentais na sociedade e os inúmeros casos de corrupção fomentam o agravamento deste quadro. A saída mais adequada, permanente e com resultados mais eficazes que encontramos está na Educação. Não apenas por conta de sua característica formativa, mas sobretudo em seu aspecto revolucionário, renovador, transformador...uma educação eficaz produzirá resultados a médio e longo prazo em nossa nação. Aqui cabe uma pergunta provocativa: "É de interesse do governo termos uma educação transformadora?"  

Cabe ao Ministério da Educação administrar a pesquisa, informação e formação no Brasil. Desde Getúlio Vargas (Presidente fundador do Ministério da Educação) tivemos 51 alternações no cargo (até o atual Ministro da Educação). Na Nova República (Sarney até Dilma/Temer) tivemos 19 ministros diferentes em um intervalo de 7 presidentes. 

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Veja esta linha do tempo que organizamos abaixo:


Lista de Ministros da Educação (em ordem decrescente) da Nova República (Sarney a atual) :

José Mendonça Filho (Michel Temer) - Administrador de Empresas
Aloizio Mercadante (Dilma) - Economista (2 vezes no cargo)
Renato Janine Ribeiro (Dilma) - Educador* (4 meses no cargo)
Luiz Claudio Costa (Dilma) - Educador* (interino)
Cid Gomes (Dilma) - Engenheiro Civil
José Henrique Paim (Dilma) - Educador* (11 meses no cargo)
Fernando Haddad (Lula e Dilma) - Doutor em Filosofia
Tarso Genro (Lula) -  Educador* (1 ano e meio no cargo)
Cristovam Buarque (Lula) - Educador* (1 ano no cargo)
Paulo Renato Souza (FHC) - Economista (8 anos no cargo!)
Murílio de Avellar Hingel (Itamar Franco) - Educador* (quase 3 anos no poder)
Eraldo Tinoco Mello (Collor) - Administrador
José Goldemberg (Collor) - Educador* (1 ano)
Carlos Chiarelli (Collor) - Educador* (menos de um ano)
Carlos Corrêa de Menezes Sant'anna (Sarney) - Médico
Hugo Napoleão do Rego Neto (Sarney) - Advogado
Aloísio Guimarães Sotero (Sarney) - Politico (interino)
Jorge Bornhausen (Sarney) - Advogado
Marco Maciel (Sarney) - Educador* (11 meses)

19 ministros.

De Sarney até 16/04/2017 temos 11720 dias, destes apenas 3499 dias com educadores como Ministros (30% do período de tempo). De 19 - 9 foram educadores.

* É imprescindível destacar aqui que todos os considerados educadores nesta lista, trabalharam com educação e não possuem formação em Pedagogia (por exemplo) mas à áreas ligadas a Educação. Diversas alterações ineficazes na educação partiram de ministros que não estão mencionados como educadores na lista acima.


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  • Não é importante que alguém que tenha conhecimento na área seja o responsável em dirigir a educação no Brasil? 
  • Quais os critérios utilizados na escolha destes ministros, interesses políticos ou competência? 
  • Na disputa por um cargo em uma empresa é preciso ter experiência ou conhecimento na área que iremos atuar, por que isto não ocorre em cargos políticos, como o do Ministério da Educação?



No Japão, que possui segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), um dos dez sistemas educacionais mais efetivos; quatro dos cinco últimos ministros eram de fato educadores, alguns deles com trabalhos acadêmicos reconhecidos nacionalmente. 

Há quem diga, que é necessário que o Ministro da Educação possua características mais administrativas e políticas, afim de "transitar" no meio político e ter uma gestão e liderança mais eficaz. Mas, também não é fundamental ele ter conhecimento a respeito da educação? Uma junta de educadores que o auxilie seria a solução? Se positivo, o "poder" do ministro e seus prováveis interesses políticos poderiam afetar as decisões a serem tomadas, mesmo sendo orientado por esta junta? 

Não enxergo que diante do atual quadro político brasileiro um administrador/político seja o ideal para atuar neste cargo tão importante, muito por nossa política estar tão impregnada de negociações, corrupções e interesses exclusos e a educação ter o papel transformador do qual já mencionei. 


Compreendo, que o cargo de Ministro da Educação (assim como para os demais Ministérios), deve ser ocupado por alguém que tenha competência comprovada, carreira e formação na área da educação, projetos e linhas de estudo que o ponham como a figura competente para tal responsabilidade; assim como é feita uma seleção para um professor acadêmico, por exemplo, onde é inclusive analisado todo o currículo e a produção acadêmica do candidato. Se há todo um cuidado e critério para a seleção de um professor universitário, por que isto não ocorre em relação ao ministro da educação? 


Quanto aos aspectos administrativos que possuem este cargo, questiono: O reitor de uma universidade de educação federal também não trabalha com aspectos administrativos? Ou não poderíamos selecionar o ministro entre os reitores ou professores federais de educação?



Por fim, repito meu questionamento:
Ministro da Educação: O ideal não seria um educador ocupar este cargo?




Fontes:


(MEC), M. d. (MEC). Ministério da Educação (MEC). Fonte: Ministério da Educação (MEC): http://www.mec.gov.br/
Educação, M. d. (2012). Programa Internacional de Avaliação de Alunos. Fonte: MEC - Ministério da Educação: http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/33571
Japão), . (. (2017). 文字サイズの変更. Fonte: http://www.mext.go.jp/b_menu/soshiki/rekidai/daijin.htm
MEXT. (2017). Hirokazu MATSUNO. Fonte: MEXT: http://www.mext.go.jp/en/about/member/title01/detail01/1375567.htm
MEXT. (2017). Ministros da Educação do Japão. Fonte: MEXT: http://www.mext.go.jp
MEXT. (2017). Stephen Hiroshi. Fonte: MEXT: http://www.mext.go.jp
Unidas, O. d. (2017). ONU - para a educação. Fonte: ONU: http://www.onu.org.br/



Comentários

  1. Antes de tudo, quero dizer que a educação no Brasil no quesito nomear ministros de educação a partir da visão político partidária está longe de se crer uma educação transformadora, categoricamente esse não é o objetivo maior dos políticos independente de ser o poder de esquerda ou de direita, aqui no Brasil esses cargos são assumidos não como currículo de competência, mas pelas barganhas partidárias de acordos políticos de campanha, esse é um problema. Atualmente o que era ruim na educação do Brasil está ainda pior. A nova reforma na BCC que retira a discussão de gênero na educação básica cai como uma luva para não pensarmos e fazer nosso alunado pensar as inúmeras violências às mulheres, assim também como é nociva a reforma do EM com a retirada de disciplinas pensantes criticamente e reforçando o tecnicismo de outrora, ora, a quem serve esse modelo de educação?? Fica a reflexão. Forte abraço em todos e todas.
    Carlos Tomaz
    Professor dá rede estadual de ensino de PE
    Ativista de DH nos movimentos negro e LGBT

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    1. Extremamente relevante seu comentário! Utilizei o exemplo do Japão, como um modelo próximo do ideal... No fim da Segunda Guerra Mundial, o primeiro ministro direcionou 80% do PIB Japonês para a educação e, quando questionado de o não fazer em infraestrutura nacional ou recuperação econômica, ele respondeu: "Penso em um Japão do futuro e não o de hoje, e para este objetivo o caminho é a educação". Não só os Japoneses se ergueram de uma guerra terrível, como possuem uma economia sustentável e um país menos desigual; tudo isso iniciou-se com uma politica educacional e investimentos eficazes.
      Em nosso país é preciso uma limpeza da máquina pública e ao mesmo tempo a realização de algo semelhante do que foi feito entre os nipônicos. Entendo, que enquanto isto não acontece, o Ministro da Educação (o mesmo se aplica a outros ministérios) deve sim ser alguém da área de Educação, caso contrário entraremos em mais retrocessos, como você exemplificou bem...há de se ressaltar que estas reformas que você apresentou estão sendo feitas por um Ministro que é formado em Administração e diga-se de passagem apresenta (principalmente a reforma do EM) como algo transformador. Como ele se sentiria, se eu ou você apresentasse mudanças estruturais na forma como se pensa a administração no Brasil?

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    2. boa pergunta, a quem serve esse modelo de educação? e acrescento, quem se serve desse modelo de educação para abrir a visão e começar a lutar?
      ainda tenho esperanças, espero não perder.

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  2. Não tenho o que acrescentar, texto ótimo !

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  3. Como tudo no Brasil! É vergonhoso o jeito que é selecionada a nossa liderança...Sonho um dia caminhar em um país mais correto e feliz.
    Texto muito bom, volto a parabenizar!

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    1. Verdade Angela. Compartilho do mesmo ideal e acredito que podemos fazer, através da educação. Obrigado pelo elogio!

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  4. Excelente! A proposta de uma educação libertadora, a qual Paulo Freire tanto idealizou, está longe da pauta de nossos políticos. Afinal o exercício pleno de nossa cidadania os incomoda. Parabéns pelo texto! Ótima exposição e reflexão.

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    1. Obrigado pelo comentário e elogio Victoria. O objetivo de nossos governantes (infelizmente) é perpetuar-se no poder. Acredito em uma educação transformadora, que seja capaz o suficiente para também gerar transformações em nossa classe política. Abraços!

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  5. Concordo totalmente com seu ponto de vista Dielson Costa e reitero a afirmacao que sempre faco de que desde ha muito tempo, os cargos nas areas fundamentais e de decisoes importantes como Educacao, Saude, Seguranca, Meio Ambiente, Relacoes Internacionais, e outras nao sao escolhidos pelo criterio da meritocracia e para realmente fazer a diferenca. Sao funcoes que tem servido apenas para garantir estabilidade e enriquecimento para seus escolhidos. Nunca pensando no bem comum ou na solucao das falhas acumuladas ao longo dos anos. Basta observar o absurdo de erros, crimes de corrupcao, roubos, propinas, crimes de Lesa Patria, e uma total falta de senso praticadas por FHC, Lula e Dilma nesses ultimos anos e chegamos a conclusao que essa gente nao teve tempo de governar porque nao passavam um minuto sequer sem estar tramando uma maneira de conseguir dinheiro de um modo ou de outro. Que tempo essa gente teve para governar se ate desativaram as gravacoes de video que havia no Palacio para melhor prevaricar? Diante disso, afirmo que para que isso tenha um fim, precisamos levar a Lava-Jato ate o fim, doa a quem doer e depois disso, tera que haver uma mudanca na legislacao eleitoral que nao permita nenhuma reeleicao e claro que nao possa ser usado o sistema de voto em lista fechada. Voto tera que ser Distrital ou Distrital misto, mas sem lista fechada mas com os mais votados.

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    1. Primeiro, muito obrigado por sua visita, te espero mais vezes enriquecendo nosso debate.

      Bom, concordo contigo em todos os sentidos, apenas acrescentaria que é preciso uma reforma política ainda mais profunda, com diminuição do número de parlamentares, retirada do foro privilegiado e escolha do salário por parte da população, além de concurso público para uma série de cargos de relevância.

      Não há nada mais a acrescentar em seu comentário tão aprofundado. Te espero mais vezes, abraços!

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    2. Verdade Dielson Costa, principalmente a diminuicao do numero de parlamentares, deputados, senadores , deputados estaduais e vereadores. Fim dos privilegios como altos salarios e verbas de gabinete. Proibicao de contrato de assessores sem concurso e isso pode se feito, pois aqui no Canada os delegados dos partidos mudam e os funcionarios do seu gabinete ou escritorio particular nao mudam seus funcionarios. Essa escolha da maneira como acontece ai no Brasil da margem a um mar de militantes e apadrinhados que temos que pagar quer queiramos ou nao. Isso faz com que o Estado Brasileiro esteja tao inchado e ineficaz. Tao bom se isso mudasse! Abraco forte

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    3. Bom, é preciso mudar tudo isso e não esperemos que isto parta dos políticos, é preciso o povo se levantar. Afinal, ratos não poem ratoeiras na casa. Abraços!

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  6. Muito bom.
    http://torredepalavras.blogspot.com.br/

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