Somos livres ou determinados?
Este questionamento
movimentou durante muito tempo os filósofos de diversas épocas, afinal de
contas, somos livres ou somos condicionados pelo sistema, cultura e outros
detalhes da vida que nos obrigam a seguirmos uma linha?
A liberdade incondicional, o livre –
arbítrio e a opressão:
Diversas visões filosóficas:
A tradição
filosófica sempre trouxe a afirmativa que somos livres, independentes das
forças externas que nos inclinam, pois nossas atitudes passam pelo nosso crivo
de decisão; de acordo com esta visão, ser livre é decidir, agir como se quer,
sem determinação causal externa ou interna, ser livre neste caso é ser incausado.
Descartes, também expressa a respeito
do livre arbítrio, afirma que o homem deve sempre tentar dominar a si mesmo,
desejando apenas o que é para fazer, o que é correto, depende dele esta
escolha, mesmo que a
paixão seja boa, cabe a nós saber como lidar com ela e de como
devemos agir, desta forma é o intelecto que tem poder de decidir, sendo assim o
que mais conhecemos, mais facilmente dominamos.
·
Teológico:
é o estado em que os homens justificavam tudo pelo divino, ou seja, que a
causa das mais variadas situações, inclusive coisas do cotidiano era atribuída
ao ato e vontade de Deus.
·
Metafísico:
foi o período histórico, compreendido entre os séculos XVIII e XIX, nesta época
os teóricos inventavam teorias que não passavam de ficções na opinião de Comte,
para ele eram palavras que nada explicam e ainda fomentam revoluções;
·
Positivo:
É o período das ciências modernas, aonde a base é o conhecimento, a observação,
do raciocínio e da experiência.
Nos argumentos de Espinosa, encontramos dois polos: A
Facticidade e a Transcendência.
· A Facticidade é o conjunto das suas
determinações, ou seja, tudo aquilo que não escolhemos no mundo, como onde
nascer, que família fazer parte, dentre outros fatores.
· A Transcendência é o estágio da liberdade, pois
é nela que o homem vai além daquilo que lhe foi determinado, para lhes dar um
sentido ou para evoluir.
“.....O homem primeiramente existe, se
descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o
concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é
nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não
há natureza humana, visto que não há Deus para a conceber. O homem é, não
apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se deseja após
este impulso para a existência; o homem não é mais que o que ele faz. Tal é o primeiro principio do existencialismo”.
Então, neste
caso qual seria a diferença do homem para as coisas? A liberdade humana, isto
por que todos os objetos por ele foram criadas e ele determina qual sua
utilidade, o ser humano existe, é um ser consciente, portanto é a consciência
que diferencia o homem dos objetos e o faz livre.
Para Sartre, o
homem pode cair na angustia, pois ao escolher a liberdade, a tendência é sentir
um vazio, que o homem passa a negar, fingir, enganando a si mesmo, imagina que
seu destino já está traçado, aceita as verdades exteriores, para não realizar
uma escolha em que ele terá que assumir as consequências, ele aceita os
argumentos exteriores, inventa, mente para si, simula que é senhor de seus
atos, mas foge da responsabilidade das consequências. Aquele que recusa a
liberdade, torna- se desonesto, desprezível, pois se assemelha as coisas, se
reduz, se torna a obra do factual, o famoso: “deixa a vida me levar.”
Ele ainda
assim afirmou: “Mas se verdadeiramente a
existência precede a essência, o homem é
responsável por aquilo que é.” Sendo assim, todo homem é responsável
por sua existência e do estado em que se encontra, pois este é o “senhor” de
suas ações.
A partir do
momento que criamos a imagem de como queremos ser, formatamos também a imagem
de como o homem deve ser, portanto, se queremos existir, construímos nossa
imagem, ela é válida para todas as épocas e validas para todos, portanto nossa
responsabilidade é muito maior do que podemos imaginar.
Marx
introduziu o termo ideologia pela primeira vez em seu livro “A ideologia alemã”
,nesta ele critica alguns filósofos, cujas reflexões partiam ideias. Para Marx então a concepção materialista da
história, inicia suas ideias a partir da produção capitalista e seus
interesses, para assim partir para o campo das ideias. Portanto, para ele a
ideologia faz parte de um campo sistemático que nos ensinam como e o que pensar
e assim determinam como devemos agir; essas ideias determinam a relação entre
os indivíduos preparando-os para as tarefas já fixadas pela sociedade. As
ideologias portanto, camuflavam as diferenças entre as classes e mantiam os
dominados sempre subjugados, sem criticar as tarefas mais penosas e pouco
recompensadoras em nome da vontade de Deus, do dever moral ou como simplesmente
estar seguindo a ordem natural das coisas.
Para Marx, estamos em um sistematização ideológica e elas são divididas em:
- Naturalização: Esta ideia consiste em aceitar como naturais situações que na verdade resultam da ação humana, como por exemplo, a ideia de nunca puder mudar a ordem das coisas como a diferença entre ricos e pobres.
- Universalização: Os valores da classe dominante são estendidos aos dominados, portanto, a ideia da classe dominada de superioridade é transmitida ao dominado o mantendo neste ponto, sem questionar absolutamente nada.
- Abstração e aparecer social: Essa tal universalidade das ideias e dos valores é resultado de uma abstração, ou seja, as representações ideológicas não se referem ao concreto, mas ao aparecer social. Ou seja, a ideia da classe dominante é abstrata, não existe, mas é a forma de manter o domínio. Por exemplo, a ideia de que não é possível o pobre desenvolver-se e melhorar de vida por conta das dificuldades e desafios sociais, é uma forma de manter a dominação.
- Lacuna: A naturalização, a universalização e a abstração põe uma lacuna e esconde algo que não pode ser demonstrado, pois assim desmascararia toda a ideologia Portanto, a ideologia não é falsa ou errada, mas ilusória, é a ocultação da verdade e do processo que promoveu a realidade social.. Portanto, existe uma realidade concreta que precisa ser desvendada e vencida.
- Inversão: Para Karl Marx A ideologia representa a realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é posto como produto, neste caso a ideologia burguesa, de desigualdade social resulta de diferenças individuais. Para Marx, a divisão social do trabalho e das relações de produção é, de fato, a causa da desigualdade social.
A hierarquia
entre o pensar e o agir, mantem este “esquema” ideológico. Neste caso esta
ideologia instaura a seguinte ordem, uma classe “sabe pensar”, enquanto a outra
“não sabe pensar” e, portanto, só faz o que lhe mandam fazer. A publicidade influencia
a vida no trabalho e nas relações afetivas, ”compramos” o desejo de “subir na
vida”, estilos de vida, a forma de se vestir, de se comportar, as convicções
políticas e éticas, mantendo o “esquema” do jeito que está. Para Marx, este é o
sistema geral, mas ele também cita que nem toda distorção é por má-fé e que
alguns eventos publicitários ou sociais é interpretação inevitável, pois toda a
estrutura já estaria “infectada” pela ideologia.
PARA PENSARMOS:
Observe as duas imagens a seguir; a primeira delas
apresenta uma escola modelo em Caetano Campos, São Paulo em 1895, apenas a alta
classe tinha acesso a uma educação de qualidade; na segunda, temos a escola de
ofícios da Rússia em 1888 que “preparava” as crianças pobres para o futuro.
Qual a principal diferença que você nota entre as
fotos?
Existe algum tipo de ideologia que era transmitida
através do que se ensinava, nas duas situações apresentadas?
Qual a relação das imagens com a forma de pensar a
sociedade, a liberdade e o arbítrio conforme os filósofos apresentados?
Atualmente, ocorre algo semelhante ao que notamos
nas imagens? Como e onde?
Profº Dielson Costa.
Referências:
COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
CORTELLA, Mário Sérgio; RIBEIRO, Renato Janine. Política: para não ser idiota. 9ª ed. Campinas:
Papirus 7 Mares. 2011.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005
PLATÃO. Diálogos: O Banquete – Fédon – Sofista – Político (Coleção os Pensadores). 5ª ed. São
Paulo: Nova Cultural. 1991.
TORO, José Bernardo; WERNECK, Nísia Maria Duarte. Mobilização social: um modelo de construir a democracia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica,2004.
VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
Muito massa a discussão!
ResponderExcluirValeu cara!
ExcluirCara, assunto complexo pra caralho. Mas, gostei do embasamento. Legal velho!
ResponderExcluirObrigado! Concordo que é complexo. Mas, acho uma discussão válida.
Excluirsomos livremente determinados!!!
ResponderExcluirComo assim? Livres ou determinados? O que viria a ser livremente determinados?
Excluirpensa bem:
Excluirvamos chegar a um lugar de qualquer jeito, mas podemos fazer supostas escolhas o que nos faz sentir livres. alem de que decidimos ser escravos de algo.
estamos livres pra escolher, mas determinados a assumir consequências.
o que podemos fazer é aprender a se questionar , autocriticar para escolher o pra que seremos determinados.
Tinha entendido de que somos livres dentro de limites, dentro do seu comentário, somos moldados ao longo do tempo, dentro do que já somos, e alem de tudo o nosso meio nos acrescenta muito. mas precisamos quebrar as barreiras e lutarmos por aquilo que é o bem comum.
Excluiragradeço por compartilhar seus pensamentos, ouvir o outro sempre nos traz ideias magnificas
Bom. Será que até essas escolhas que iremos realizar, não são presas a critérios sócio-históricos? O que você-eu temos como "bom", como algo a se escolher não é algo construído pela sociedade em que vivemos? Deste modo, esta escolha não seria tão livre. As consequência serão nossas, mas até estas foram determinadas pelo modelo de sociedade em que vivemos, isto não é uma outra prisão que estabelece as consequências para determinadas ações que ela considera incorretas?
ExcluirUauuuuu!!! Que texto, que panorama dos filósofos! Acho que ninguém é livre, ninguém...de uma forma ou outra somos prisioneiros a algo.
ResponderExcluirDielson, você precisa escrever mais e mais...devia ser mais conhecido! A Cleidiane tá de parabéns em ter colaboradores tão competentes!
obrigada Angela, por colaborar com nossos escritos!
ExcluirObrigado por compartilhar sua percepção Ângela!
ExcluirQue nada! Ninguém é livre nessa carroça cultural! BOm texto!
ResponderExcluirMárcio. O que seria então a liberdade?
ExcluirVei, texto muito bom! Todos somos determinados, é uma bolha...tipo Matrix, ninguém sai dessa parada!
ResponderExcluirVerdade!
ExcluirMurilo. Dê uma olhadinha em um trecho do filme Matrix que coloquei no outro post.
ExcluirMuito bom texto ! Parabéns para os dois !
ResponderExcluirTambém estou lendo o livro do Cortella e achei interessante quando Janine disse "A política seria uma maneira de lançarmos luz
sobre essas teias invisíveis que nos dominam e tentarmos controlá-las". E neste mesmo livro ele fala sobre viver em sociedade e que viver em sociedade é condomínio, e que você tem que participar das reuniões chatas que servem para tomada de decisões. E ele ainda fala " os ausentes não tem razão ". Fazendo uma reflexão básica somente destas frases, eu entendo como liberdade o poder/direito/dever de participar,opinar, descordar... (tentar controlar essas teias invisíveis ou ser controlado), lembrando que os ausentes não tem razão, se eu não participo das decisões do domus sou dominado por elas.
É minha humilde opinião, abraço!
Opinião mais do que válida! Valeu pelo comentário Maurício. Seguindo seu ponto de vista, somos livres se participamos das decisões, correto? Mas, suas decisões são livres ou estão presas a valores que você aprendeu alguma vez e portanto não são livres/isentas de uma ideologia? Só para continuarmos o nosso filosofar!
ExcluirCom certeza presa a valores anteriores! É impossível não ser influenciado por outras ideologia ao meu ver. Não vou conseguir chegar onde você quer, então, é possível não ser determinado? É possível ser livre de influências ? Esse debate foi ideia sua ou foi influenciado ?
ExcluirPerfeito seu comentário! Todo e qualquer individuo foi influenciado por algo/alguém ao longo de sua vida. Embora, o assunto tenha sido desenvolvido por mim, ele é fruto de uma série de influências filosóficas que construíram esta rede de ideias que postei e que está presente também nos comentários. Todos nós somos teias de ideias de outros que formam nossa própria teia! Massa suas perguntas!
ExcluirMuito bom!
ExcluirBlogueiro Dielson. Valeu pelo seu comentário lá no meu blog, continue visitando o Oficina da Educação. Espero continuar colaborando para seu conhecimento, assim como acabou de participar no meu com este post! Abraços!
ResponderExcluirGrato! Muito grato! Espero lhe ver sempre por aqui, estarei sempre visitando o Oficina da Educação! Abraços!
ExcluirAprendi mais lendo os comentários do que o texto .
ResponderExcluirIsso é perfeitamente normal, se aprende lendo e discutindo o que se leu. A consolidação do conhecimento se dá depois de repensar e analisar o assunto, aceitando opiniões e experiências diversas.
ExcluirO que te faz quem é são suas experiencias e seu pensamento sobre elas.