Resenha Critica dos cap.1; 3 (pag.35 à 42); 4 (pag.71 à 81), do livro “Imagens que falam: leitura da arte na escola” de Rossi; Maria Helena Wagner

Os capítulos, que esta resenha irá tratar, discutem a qualidade do ensino da arte nas escolas, trazendo uma proposta de alfabetizar não só pelo significado das palavras, mas também pela leitura de imagem, pois Berger (1987) citado por Rossi (2003) pag.10 diz que “a vista chega antes das palavras. A criança olha e vê antes de falar”. Essa leitura da imagem vai além de dizer o percurso da história num segmento de quadrinhos e transcrever em palavras, vai além do fazer a linha, forma, ritmo entre outros que não contribuem exteriorização de ideia.
No capitulo1, perpassa a história do uso da imagem no ensino da arte, que até o final do sec. XIX, (final do período da “escola tradicional”), não era questionada, posto que, Rossi (2003) pag.13, “ao nascer o ser humano seria uma folha em branco, onde as informações e a própria cultura, seriam inscritas, seguindo o pressuposto do empirismo”; sendo assim a reprodução das imagens e o amplo conhecimento dos assuntos do meio artístico é indispensável para criação artística, desse modo se enfatiza o contato com o mundo da arte, ao contrário do período em que surge a “escola nova”, onde o centro é a subjetividade do aprendiz, a produção do aluno passa a ser mais importante e a única que permanece no ambiente escolar, sendo assim ocorre o afastamento dos aprendizes do mundo da arte. Desde então, até hoje não houve mudanças significativas no ensino da arte nas escolas.
Neste capitulo a autora trata também de compreensão estética, desenvolvimento cognitivo e interpretação da obra de arte, faz uma comparação importante entre o construtivismo e o socioconstrutivismo, explanando que a criança faz a leitura da obra de arte a partir das suas experiências, de seus pontos de vista e do conhecimento que adquire no meio em que vive, inclusive, apresenta testes feitos por Bruner, onde a criança pobre e a criança rica percebem o tamanho da moeda de maneiras diferentes; acredita que a teoria contextualista de Vygotsky é mais adequada para a compreensão estética.
Nas primeiras sete paginas do capitulo 3, apresenta uma coleta de dados com analise fundamentada em Parsons e Freeman com criança da educação básica com questionamentos que se atém a questão da leitura da imagem (por que será que o artista pintou desse jeito?; por que será que o artista pintou esse quadro? Etc.), explicitando a relação que a imagem estabelece com as “coisas”, com a mente do produtor e com a mente do leitor. Nessa coleta de dados, nota-se que os alunos acreditam que o artista aproveita-se das oportunidades para pintar o que está diante dos seus olhos, ou escolhe a realidade que quer pintar, não sendo capaz de criar senão de transferir para a tela atributos do mundo; quanto menor a criança, menor é o reconhecimento da autonomia do artista.
No capitulo 4, a autora fala sobre julgamento, ainda coletando dados, como elemento constitutivo da leitura estética, Rossi (2003) pag.71 “o julgamento estético não é algo separado das experiências cotidianas, pois são essas experiências que lhes proporcionam os critérios com os quais eles enfrentam os objetos no mundo”, o julgamento acontece depois da leitura da imagem, vê-se a imagem e cria-se os critérios para julgar. As crianças julgam, com maior frequência, a partir da cor, tema, realismo, expressividade; com menor frequência pela criatividade, maestria e utilidade da obra.
São feitas perguntas para as crianças julgarem a qualidade da obra (Essa imagem é boa? por que esta imagem é boa/ruim?) quanto menor a familiaridade com a arte, menor a profundidade e subjetividade do julgamento estético, tanto em crianças quanto adolescentes; no julgamento, as crianças relacionam a qualidade ao belo e ao moralmente bom e justo, não consegue diferenciar o moral do estético.
Acredito que o ensino de arte, com a proposta de alfabetização estética contextualizada ligada ao ensino da letra, na escola é indispensável para uma educação crítica e de bases sólidas; não se esquecendo das obras de artes existente e nem “deixando de lado” a produção criativa dos alunos, mas unindo as duas “coisas” para que haja uma completude, alcançando o objetivo do trabalho.
Essa proposta lembra Paulo Freire quando diz que a leitura de mundo, precede a leitura da palavra, é interessante que não se desvalorize nem a arte e nem a palavra, é proveitoso se ensinar a ver, como se ensina a ler, pois essa visão diferida da cotidiana resultara em alunos mais críticos e detalhistas, que não pensam em objetivos particulares, mas no bem comum.
A leitura desta obra é significativa para pedagogos e licenciados que querem ter uma visão crítica e diferenciada sobre o ensino da arte como disciplina, e a leitura estética como parte constitutiva do ser humano. Entende-se que a arte não é puramente um lazer, nem um instrumento de manobra de massa ou de transmissão de filosofias políticas, mas que faz parte do ser humano desde a mais tenra infância.
Cleidiane Vitoria – acadêmico do curso de pedagogia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).



Referencia
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ROSSI, Maria Helena Wagner. Leitura estética In: Imagens que falam: leitura da arte na escola. 1. ed. Porto Alegre: editora Mediação, 2003
ROSSI, Maria Helena Wagner. Como os alunos interpretam as imagens? In: Imagens que falam: leitura da arte na escola. 1. ed. Porto Alegre: editora Mediação, 2003

ROSSI, Maria Helena Wagner. O julgamento na leitura estética. In: Imagens que falam: leitura da arte na escola. 1. ed. Porto Alegre: editora Mediação, 2003 

Comentários

  1. Gostei do texto. Sempre foi um saco as aulas de arte onde estudei. Na verdade,acho que nunca estudei de fato arte. Você me deu uma nova visão sobre o assunto. Muito legal!

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    1. Que bom Angela! Aguarde, que Cleidiane irá postar uma outra etapa sobre esse assunto. Esperaremos você!

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  2. pois é Angela, quando comecei a estudar sobre o ensino da arte, percebi que nós a negligenciamos, e que nela há muitos benefícios ao nosso cognitivo! ainda postarei outra resenha sobre o ensino da arte!
    hoje respeito muito mais os profissionais de artes, e entendo que não é só lazer, mas que há técnica e um conhecimento muito vasto sobre a história

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    1. Que bom, que chegou a essa conclusão...Além desse que você disse que ia colocar, não esquece da minha sugestão (risos).

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